Meu fundecitrus

Comunicação

Workshop de greening: principais dúvidas dos citricultores

Durante o Workshop de greening: estratégias para manejo da doença realizado pelo Fundecitrus recentemente, dúvidas foram enviadas pelo público durante a transmissão online do evento, além das perguntas realizadas por quem participou presencialmente do workshop, no auditório da instituição.

Algumas das perguntas enviadas virtualmente já foram contempladas durante o evento, e, agora, disponibilizamos as respostas a todas as dúvidas que surgiram, assim, auxiliando no controle da doença. Confira:

  • Luiz Gonzaga Fenólio: Como tem sido a participação da fiscalização do estado na erradicação de plantas doentes?
  • Anderson Mello: Como proceder quando não temos a ação da defesa agropecuária com poder de punição? Sendo que a lei atual deu força, mas deixou brechas. Há alguma ação nessa problemática?

Hoje temos em vigor a Portaria do MAPA 317 de 21 de maio de 2021 e a Resolução SAA 88 de 07 de dezembro de 2021, que estabelecem os procedimentos e os critérios para o controle do greening. É função da Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA) fiscalizar e fazer cumprir essa legislação por todos os citricultores, inicialmente notificando os produtores que não estiverem cumprindo a lei e, em caso de reincidência, autuá-los. Toda denúncia anônima ou não, protocolada na CDA, deve ser atendida.

Pontos importantes dessa legislação são:

- Pelo menos 4 inspeções anuais para detecção de plantas com sintomas de greening em pomares comerciais e entrega de relatórios semestrais sobre as plantas encontradas e eliminadas;

- Obrigatoriedade da eliminação de plantas de citros com sintomas de greening até o oitavo ano do pomar. A partir do oitavo ano, se o produtor realizar um bom controle do psilídeo (não ter presença de ninfas do psilídeo no talhão), a eliminação de plantas sintomáticas pode ser facultativa;

- Eliminação obrigatória de plantas de citros sintomáticas em pomares sem fins lucrativos;

- Obrigatório o controle do inseto vetor, psilídeo Diaphorina citri.

  • Luan Cruz:​ A eliminação drástica dos ramos sintomáticos em conjunto com o manejo do psilídeo nos ajudaria a reduzir a fonte de inóculo dentro do pomar?

Não. A poda de ramos sintomáticos não elimina a bactéria da planta doente e, portanto, não reduz a fonte de inóculo dentro do pomar. Como a bactéria se move pelo floema da planta, na maioria das vezes, quando os sintomas foliares aparecem, a bactéria já está no sistema radicular. Após a poda, novas brotações são estimuladas e elas já aparecem com a bactéria. Se essas novas brotações doentes não forem protegidas com inseticidas, elas servirão de fonte de bactéria para infecção de novas plantas. O controle frequente do psilídeo (a cada 14 dias) nas plantas doentes ajuda a impedir que a bactéria seja adquirida nessas plantas e transmitida para outras plantas dentro e fora do pomar.

  • Claryssa Monteiro: ​Na regional de Taubaté verificamos a não ocorrência do greening em propriedades com SAF, mesmo sendo vizinhas a propriedades com incidência de greening. Gostaria de saber sobre pesquisas nesse aspecto.

Esta seria uma linha interessante de pesquisa, mas o Fundecitrus não tem pesquisas sobre o progresso da incidência de greening comparando propriedades tradicionais de citros e propriedades com SAF.

  • José Carlos:​ Que nível de erradicação poderia ser considerado como bom manejo em pomares de até 5 anos?

A incidência média de laranjeiras com greening em pomares de 0 a 2 anos e de 3 a 5 anos no cinturão citrícola de São Paulo e Sul do Triângulo Mineiro é de, respectivamente, 2,8 e 16,5%. Em regiões com alta incidência da doença são observadas mais de 20% das plantas até 5 anos com sintomas de greening, enquanto em regiões com baixa incidência da doença são observadas incidências abaixo de 5% nos pomares até 5 anos. Uma incidência acumulada menor que 10% até o quinto ano do pomar é considerada como um bom resultado no manejo dessa doença, o que daria algo entre 1 e 2% de incidência ao ano.

  • Daniele Almeida: Quais seriam as opções de prevenção e controle em pomares de manejo orgânicos?

As opções que podem ser utilizadas em pomares orgânicos e se mostraram eficientes no manejo do psilídeo são: óleo mineral 1%; caulim processado (2%); produto a base de spinosad (ver produtos com registro para citros) e fungos entomopatogênicos (Beauveria bassiana e Isaria fumosorosea). Áreas com aplicações frequentes desses produtos (intervalo de aplicação ≤10 dias) apresentaram uma baixa população do psilídeo. Em todos as opções, é necessário utilizar produtos de qualidade para ter uma boa eficácia no controle do inseto e evitar fitotoxidade na planta.

  • Jose Buenahora: ​La técnica del push-pull es muy interesante! Hay ya alguna experiencia de validación de la técnica a mayor escala en Brasil al momento?

Estudo realizado pelo Fundecitrus em parceria com a FAPESP demonstrou que, quando as murtas (plantio-isca) são plantadas na borda do pomar de citros em formação e tratadas com inseticidas (sistêmico e pulverização), parte dos insetos oriundos de áreas externas são atraídos para essas murtas, se alimentam e morrem. Em um pomar comercial implementado na região central do estado de São Paulo juntamente com o plantio-isca de murta em sua borda, após 5 anos, observou-se uma redução de 30% da população de psilídeos e incidência de greening comparado com um pomar sem plantio-isca. A técnica de push-pull (plantio-isca na borda do pomar + aplicação de caulim processado nas plantas de citros) foi validada somente em pomar experimental.

  • Rodrigo A. Polizello:​ Apenas uma linha com murta na bordadura seria suficiente?

No estudo que foi observada redução da entrada de psilídeos no pomar com plantio-isca, foram utilizadas duas linhas com 40 cm de espaçamento entre si plantada na borda do pomar (do outro lado do carreador) e, além disso, duas plantas de murtas na “cabeceira” de cada linha de plantio de citros (espaçadas 40 cm entre si).

  • Raphael V Tardivo​: Fazendo o uso de Caulim em bordaduras ou área total, é possível reduzir o uso de inseticidas no pomar?

A aplicação do caulim é complementar à aplicação de inseticidas. Para que esta tática de controle seja efetiva, é importante utilizar um produto livre de contaminantes (metais pesados), não abrasivo, de granulometria pequena (≤ 2µm), coloração branca (>85%) e facilmente dispersível em água, permitindo sua aplicação por meio de turbopulverizadores. Em grandes áreas, a redução da população do psilídeo e incidência de greening foi observada quando o caulim processado foi aplicado em uma faixa de 100 m (borda do pomar), com frequência de aplicação a cada duas semanas e dose 2%. Em talhões pequenos localizados na borda da propriedade é recomendado aplicar no talhão inteiro.

  • Anderson Oliveira: ​Gostaria de saber se cercas vivas, por exemplo "Sansão", são um aliado contra o greening. Ou seria um hospedeiro também?

As cercas vivas (ex.: Sansão do Campo e Jambolão) e os quebra-ventos (Casuarina e Colymbia toleriana) não são hospedeiros do psilídeo e, de modo geral, não têm efeito em reduzir a entrada do inseto na propriedade.

  • Rodrigo A. Polizello: ​Qual a frequência ideal da poda, já que ela favorece novas brotações?

Não há frequência ideal para poda, pois a mesma será conduzida de acordo com a própria necessidade do produtor e com sua programação de colheitas, porte das plantas e adensamento do pomar.

O principal cuidado se refere à intensificação do controle do psilídeo logo após a poda.

Se o pomar não está passando por qualquer problema de falta de chuva prolongada, logo após as podas há intensa brotação, que acontece mais rapidamente quanto mais altas forem as temperaturas. Se a temperatura média do ar estiver acima de 26 °C, os primeiros brotos podem aparecer em até 5 a 7 dias, ou em até 15 a 25 dias se a temperatura média estiver abaixo dos 22 °C.

A intensa brotação que acontece acaba por atrair grande quantidade de psilídeo.

Por isso, é preciso cuidar muito bem protegendo as brotações com pulverizações frequentes de inseticidas, pois basta um único psilídeo infectivo se alimentar de um único broto para que a infecção aconteça.

  • Luiz Gonzaga Fenólio:​ João, é correto considerar que de uma população de psilídeos 40% são infectivos?

Na média, sim. Mas o número depende muito da incidência de greening na região, da própria região e da época do ano.

A incidência de psilídeos infectivos pode ser superior a 70% nas regiões centro-sul do estado de São Paulo, na maior parte do ano, e não chegar a 10% no extremo norte do parque citrícola nos meses de verão. Isso porque o calor também afeta a multiplicação da bactéria do greening nas plantas doentes, reduzindo sua concentração e a taxa de aquisição quando o psilídio se alimentar no broto doente.

  • Emilio Coelho de Souza: ​Qual a melhor forma de fazer a bordadura de pomar em pulverização aérea?

A pulverização aérea pode ser realizada por meio de aviões e drones. O sentido do voo está muito relacionado à direção do vento – de modo geral, o voo deve ser perpendicular ou em um ângulo de pelo menos 25 graus em relação ao vento, independente do sentido de plantio do pomar. Em bordas que apresentam quebra-ventos e outros obstáculos (como rede de eletricidade), o drone consegue fazer uma pulverização de melhor qualidade, pois o avião tem que aumentar a altura de voo e, consequentemente, a qualidade da aplicação é reduzida.

  • Marco Valerio Ribeiro: Alguma novidade com relação ao uso de avião para controle de psilídeo?
  • Marco Valerio Ribeiro: Pergunta para o Marcelo Miranda: novidades sobre controle com uso de aeronave (avião), para controle de psilídeos em épocas de mais brotação?

Essa modalidade de aplicação é uma opção complementar às pulverizações terrestres e pode ser utilizada em momentos que exigem uma aplicação rápida (ex.: durante pico populacional do psilídeo, brotações etc), devido ao alto rendimento operacional. Novos estudos estão sendo conduzidos para verificar a efetividade de outros inseticidas (diamida, butenolide, sulfoxamina e espinosina) com diferentes modos de ação que possam ser utilizados em rotação com os piretroides nesta modalidade de aplicação. Esses estudos estão previstos para serem finalizados até o fim do primeiro semestre de 2023. 

  • André Luis Nascimento: ​Qual o tipo/modelo de drone usado nas aplicações da fazenda Cambuhy?

Foi utilizado o drone da marca XAG, modelo P30, que possui o sistema de pulverização de disco rotativo.

  • Wesley Santana:​ O manejo das armadilhas pode ser feito além das bordas dos talhões, em área aberta, como perto do escritório/oficina? Também seria útil colocar as armadilhas?

Os psilídeos apresentam gradiente decrescente da borda para o interior da propriedade. Cerca de 50% dos psilídeos observados nas armadilhas estão nos primeiros 50 metros da borda, 70% até 100 metros e 95% até 150 metros. Em condições de manejo adequado (não criar o psilídeo dentro da propriedade), a captura é maior nos talhões localizados nas bordas da propriedade do que nos talhões internos. Na parte interna da propriedade, capturas maiores de psilídeos podem ocorrer em talhões localizados em pontos mais altos e expostos aos ventos. Também são observadas capturas significativas do psilídeo em talhões próximos a locais iluminados (como portaria, sede e barracões). Dessa forma, é interessante que nesses locais também sejam instaladas algumas armadilhas.

  • Laura Leonel de Toledo: ​Dentro de outras culturas, o manejo integrado e manejo de resistência com a utilização de biológicos já é bem mais difundido que na citricultura. Qual seria sua opinião em relação à associação desses dois modos de ação distintos para controle de indivíduos tolerantes ou resistentes de forma mais efetiva?

A utilização de inseticidas biológicos em associação com inseticidas químicos é uma medida interessante no manejo da resistência, desde que o inseticida biológico seja efetivo em controlar o psilídeo.

  • Márcio Augusto Soares​: Não recomenda uso de produtos comerciais contendo a mistura de dois princípios ativos? É melhor usar os ativos separadamente?

No caso em que os princípios ativos são utilizados frequentemente na citricultura (ex.: piretroides e neonicotinoides), a melhor estratégia é utilizar separadamente em rotação com outros princípios ativos contendo diferentes modos de ação. Em períodos de brotações, os inseticidas químicos que atuam no desenvolvimento da fase jovem do psilídeo (reguladores de crescimento) podem ser aplicados em mistura com os demais inseticidas químicos. Contudo, estes inseticidas reguladores de crescimento nunca devem ser utilizados isoladamente no manejo do psilídeo.