Safra de laranja 2021/22 do cinturão citrícola de SP e MG é estimada em 294,17 milhões de caixas
Apesar do aumento de 9,51% em relação à temporada anterior, produção foi bastante afetada pelas condições climáticas desfavoráveis e está abaixo da média produzida nos últimos dez anos
A safra de laranja 2021/22 do cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro, principal região produtora de laranja do mundo, é estimada em 294,17 milhões de caixas (40,8 kg), de acordo com o anúncio online feito pelo Fundecitrus em 27 de maio. O crescimento é de 9,51% em comparação à safra anterior (finalizada em 268,63 milhões de caixas), mas o número está abaixo da média das últimas dez safras em, aproximadamente, 35 milhões de caixas, o que equivale a uma queda de 10,53%.
A safra atual é de bienalidade positiva, segundo Vinícius Trombin, coordenador da Pesquisa de Estimativa de Safra (PES) do Fundecitrus, o que significa que as laranjeiras tinham condições fisiológicas para gerar uma carga de frutos maior do que a do ciclo anterior, em virtude das reservas que foram poupadas com a baixa produção. As últimas safras de bienalidade positiva aconteceram em 2017/18 e 2019/20.
“No entanto, neste ano, o aumento do número de frutos por árvore em relação à temporada anterior é significativamente menor do que nesses últimos anos em que a cultura também foi favorecida pelos ciclos de alta produção – um incremento de apenas 12,50%, enquanto, antes, tivemos 75% [em 2017/18] e 39% [em 2019/20]”, explica.
As adversidades climáticas prejudicaram de forma notável o volume produzido – o que demonstra como os fatores climáticos influenciaram a citricultura do estado de São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro, visto que aproximadamente 70% da área é cultivada em sistema de sequeiro.
A previsão, segundo a Somar Meteorologia/Climatempo, é que o padrão de chuvas abaixo da média histórica não deve mudar nos próximos meses, continuando escassas até outubro, o que pode trazer outros impactos à produção. Os efeitos destas condições desfavoráveis do clima já estão contemplados nesta estimativa de safra, e as próximas reestimativas, em setembro, dezembro, fevereiro e abril, apresentarão as correções desta projeção inicial.
Alta produtividade
De acordo com o gerente-geral do Fundecitrus, Juliano Ayres, foram dois anos, 2020 e 2021, extremamente secos, com índices abaixo da média histórica de chuvas na maior parte do tempo. Além do déficit hídrico, que, aliado a altas temperaturas por dias seguidos, causa desequilíbrio hormonal e, consequentemente, a queda precoce de frutos, o agravamento de algumas das doenças que acometem os citros, especialmente o greening, cujos sintomas ficaram mais expressivos por conta da seca, impactou a produtividade desta safra.
“Ainda assim, conseguimos [o cinturão citrícola] chegar a 850 caixas de laranja por hectare”, diz. “Alcançar níveis de produtividade que assegurem a viabilidade do negócio, com tantas dificuldades impostas pelo clima e tantos desafios fitossanitários não é fácil”, comenta. “Não sei se há outra cadeia do agronegócio tão rentável, mas eu sei que não há outra com tantos problemas de pragas e doenças. O parque de São Paulo e Minas é o único do mundo que continua com produtividade alta [média de 824 caixas por hectare nos últimos seis anos] mesmo com a presença do greening”, enfatiza Ayres.
Projeções demonstram a rentabilidade da citricultura
O número de árvores produtivas desta safra totaliza 166,56 milhões, elas ocupam uma área de 346.123 hectares. Esses valores representam, respectivamente, uma redução de 4,41% e 5,03% sobre o inventário anterior, de março de 2020.
Houve um aumento significativo da erradicação de pomares, que está relacionado aos dois anos consecutivos de seca intensa e também ao momento de ciclo de alta de preços de outras commodities agrícolas, como milho, soja e açúcar, que apareceram como outras opções de cultivo.
Em relação ao tamanho dos frutos, a projeção é de 259 frutos por caixa, o equivalente a laranjas com peso aproximado de 157,5 gramas na colheita, abaixo do peso médio das últimas seis safras (167 gramas) – uma das causas que deve inibir o crescimento dos frutos é a previsão de chuvas abaixo da média até outubro de 2021. Já a taxa média de queda de frutos projetada é de 20,50%, a segunda mais alta desde o início dos levantamentos realizados pelo Fundecitrus, em 2015.
Apesar disso, a citricultura continua extremamente interessante para o Brasil. Para o coordenador Político-Institucional e Metodológico da PES, Marcos Fava Neves, conselheiro da Markestrat e professor da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP/Ribeirão Preto, a citricultura de São Paulo e Minas Gerais, que traz anualmente US$ 2 bilhões (R$ 10 bilhões) para o País, vive um momento de relativo otimismo. “A retomada global da economia, principalmente de alguns mercados que importam suco de laranja brasileiro, e o reatamento dessa amizade entre suco e saúde, por conta da pandemia, fortalecem a demanda”, avalia.
“A tendência é que os preços de FCOJ (suco concentrado) e NFC (não concentrado) sustentem-se em um bom patamar. É possível até que subam um pouquinho. E é bom que não subam muito. Parece um contrassenso, mas o preço alto tem suas consequências, como os produtos substitutos para assegurar giro rápido e margem para os engarrafadores”, completa o especialista em agronegócio.
Desafios superados
Nestes últimos dois anos, com as restrições impostas pela pandemia de Covid-19, a execução do novo mapeamento, que estava programado para iniciar em agosto de 2020, foi adiado para agosto de 2021.
O coordenador da área de Estatística da PES, José Carlos Barbosa, explica que, para seguir rigorosamente aos protocolos de saúde e segurança durante o levantamento, foram necessários alguns ajustes e adaptações na forma de trabalhar. “Mas, como em todas as outras edições, o resultado da estimativa foi o mais preciso possível”, relata Barbosa. “Conseguimos combinar integridade física e número [da safra] confiável”, afirma.
O presidente do Fundecitrus, Lourival Carmo Monaco, agradeceu a adesão dos citricultores ao trabalho, permitindo a entrada dos agentes de pesquisa para a coleta de dados nas fazendas, e ressaltou também o papel do setor privado, tomando a iniciativa de conhecer cada vez mais, de forma integrada, a cadeia produtiva. “O conhecimento leva à sustentabilidade”, destaca.
Para Monaco, é função da PES identificar os detalhes que afetam a citricultura em todas as suas condições, climáticas, agronômicas, históricas. “Assim, a pesquisa pode contribuir com eficácia na busca por resultados positivos”, avalia.
O sumário com informações detalhadas sobre a estimativa da safra e o inventário de árvores no sumário está disponível em https://www.fundecitrus.com.br/pdf/pes_relatorios/2021_05_27_Sumário_Executivo_da_Estimativa_da_Safra_de_Laranja_2021-2022.pdf.
Orange crop forecast
The 2021-2022 orange crop forecast for the São Paulo and West-Southwest Minas Gerais citrus belt, published on May 27, 2021 by Fundecitrus, in cooperation with Markestrat, FEA-RP/USP and FCAV/Unesp, is 294.17 million boxes (40.8 kg or 90 lb): https://www.fundecitrus.com.br/pdf/pes_relatorios/2021_05_27_Executive_Summary_of_Orange_Crop_Forecast_for_the_2021-2022_Season.pdf