Principais dúvidas dos citricultores sobre a alta população de psilídeos
Durante o webinar realizado pelo Fundecitrus sobre a alta população e estratégias de manejo do psilídeo, diversas dúvidas foram enviadas pelo público.
Disponibilizamos as respostas a todas essas perguntas, que auxiliam a compreender melhor as causas do aumento populacional e a como lidar com a situação de forma a aumentar a eficiência de controle do inseto.
Márcio José: Com o frio diminui a população do psilídeo?
Anderson Oliveira: Uma pergunta já feita aqui, qual seria a incidência do psilídeo sobre baixa temperatura?
Mauricio Mendes: Gostaria de saber se as baixas temperaturas exercem controle sobre psilídeos e a que nível.
Estudos demonstram que, em temperaturas abaixo de 15 °C, o desenvolvimento dos psilídeos é mais lento – mas eles não chegam a morrer.
As baixas temperaturas prolongam o ciclo do inseto, que passa a ser superior a 14 dias. Então, momentaneamente, é observada uma redução da população de psilídeos – mas isso é temporário, porque geralmente após as frentes frias que têm ocorrido no cinturão, as temperaturas voltam a subir durante o dia, dependendo de cada região, fazendo com que o desenvolvimento do psilídeo seja retomado.
Portanto, as temperaturas reduzem um pouco e temporariamente a população, mas não significativamente a ponto de o inseto sumir por um tempo.
Danilo Yamane: Nos períodos mais críticos (brotações), quais princípios ativos seriam mais eficientes e com maior residual de controle psilídeo? Vale a pena utilizar mistura de inseticidas para controle ninfas?
O Fundecitrus realizou um estudo que foi parte da dissertação de um aluno do Mastercitrus, neste trabalho os produtos que apresentaram maior resiadoal nas brotações foram o dimetoato (que hoje não faz mais parte da lista ProteCitrus) e o tiametoxam, comparado com o imidacloprid e bifentrina, que não apresentaram residual nos brotos. Atualmente, novos produtos estão sendo analisados e os resultados devem estar disponíveis em breve.
A mistura de inseticidas para controle de ninfas somente vale a pena quando o pomar está com intenso fluxo vegetativo e alta infestação do psilídeo. Neste caso o correto e misturar um inseticida com ação em adultos (ex. piretroide, fosforado, neonicotinoide e diamida) com um regulador de crescimento. Em situação de baixa-média população, os inseticidas com ação em adultos, que também controlam ninfas, já são suficientes.
Hamilton Rocha: Para controle de ovos de psilídeo, o que recomenda, Marcelo?
Fernando Sanhueza Salas: Num alto nível de população existiria uma sobreposição de insetos com diferentes instares, qual a sugestão para controle destes e dos ovos que sobraram para evitar uma reinfestação?
Não existem produtos eficazes no controle de ovos do psilídeo (não reduzem significativamente a eclosão das ninfas).
Quando se tem um alto nível populacional com sobreposição de diferentes fases de desenvolvimento do psilídeo, pode ser feito a mistura de um inseticida com ação em adultos (ex. piretroide, fosforado, neonicotinoide e diamida) com um regulador de crescimento.
Silvio Turbiani: Marcelo, você comentou sobre a importância de armadilhas nas bordas das plantas. Também pode usar o plantio do Curry como atrativo do psilídeo nas bordadas?
Estudos de um aluno do Mastercitrus demonstraram que o Curry tem potencial para ser utilizado como plantio isca ou cultura armadilha para o psilídeo. Contudo, isso ainda precisar ser avaliado em grandes áreas.
Fábio Takeshi Yamamoto: Prof. Marcelo Miranda, a pulverização de neonicotinoides também reduz a taxa de transmissão do HLB, assim como aplicações via drench?
A pulverização pode reduzir a inoculação, caso o psilídeo chegue na planta tratada poucos dias após a pulverização. Contudo, se ocorrer uma chuva ou passar vários dias da pulverização, este efeito pode ser bastante reduzido.
Eng. Agr. Fernando Mascaro: Dr. Marcelo, quais foram os últimos trabalhos que avaliaram os níveis de resistência (aos principais ingredientes ativos) das populações de Diaphorina no estado de SP?
O último estudo foi realizado pela equipe do Prof. Celso Omoto (Esalq/Usp) em 2013. Naquela época não foi detectada presença de populações resistentes.
Tony Florian: Marcelo, qual as melhores doses do caulim nas diferentes idades dos pomares?
Independentemente da idade, pode ser utilizado 2% de caulim processado e formulado para pulverização em citros.
Danilo Yamane: Os "novos" inseticidas que misturam diferentes princípios ativos podem dificultar resistência no psilídeo?
Em teoria, sim. Contudo, é importante que a aplicação seguinte seja com um produto com modo de ação diferente dos inseticidas que fazem parte da mistura comercial.
Marcos Paulo: Quanto eficiente é a Tamarixia como inimigo natural em relação à ninfa do psilídeo? E tem estudo de algum outro parasita no combate ao Diaphorina?
A eficiência da Tamarixia depende muito das condições ambientais e quantidade de insetos liberados por área. Em um estudo recente de um aluno do MasterCitrus, foi observado que a liberação de 60 vespinhas por planta ou 3.200 vespinhas por ha resulta em uma eficácia em torno de 70%. Existe outro parasitóide, porém é menos eficiente que a Tamarixia.
Lucila Molina: Em relação ao controle biológico com parasitóides, há um futuro promissor para esse controle? Esse controle poderia se tornar o controle principal futuramente?
A Tamarixia pode ser utilizada somente em áreas externas (sem manejo do psilídeo) para reduzir a migração do psilídeo destas áreas para os pomares comerciais. Dentro do pomar comercial, medidas sustentáveis como o fungo entomopatogênico (Isaria) e caulim processado podem ser utilizados.
Qual a eficiência de coquetéis nutricionais e novos produtos para o controle do greening?
Até agora, nos testes realizados pelo Fundecitrus com diversos produtos ou combinações de produtos, nenhum deles foi capaz de curar uma planta infectada, reduzir o progresso dos sintomas e manter ou aumentar a produção da planta doente ao nível de uma planta sadia. Em nenhum dos experimentos realizados a aplicação desses produtos resultou em um benefício maior que o custo.
O importante é ressaltar que, mesmo quando o citricultor para de eliminar a planta doente e passa a usar um desses coquetéis, é necessário continuar com o controle rigoroso do psilídeo – porque como a bactéria da planta doente não está sendo morta, caso o inseto se reproduza nessa planta doente, haverá contaminação dentro da propriedade e em toda a região.
Samuel Tavares: Por que o Fundecitrus não fala sobre o Granblak, criado pelo IAC e tem ótimos resultados contra o greening?
Por que até o momento o Fundecitrus não tem nenhum dado experimental sobre a eficácia deste produto na cura, remissão de sintomas e aumento de produção de plantas com sintomas de greening que justifique sua recomendação ao produtor.
Deyvid Braz: É notável uma presença mais elevada de psilideos em áreas mais próximas a plantações de cana-de-açúcar, somente as pulverizações de bordadura seriam o suficiente para este controle?
A cana-de-açúcar não é uma planta hospedeira da bactéria e do psilídeo. Provavelmente a contaminação nesta área vizinha do canavial vem de outras propriedades de citros localizadas na vizinhança desse canavial. Também temos visto casos de que o canavial foi formado em local onde havia um pomar de citros que foi erradicado e, devido à presença de brotos de raízes do porta-enxerto após a erradicação do pomar, formaram-se novas plantas de citros dentro do canavial.
Neste caso, a aplicação frequente na faixa de borda (primeiros 200 m) vai ajudar no controle de novas infecções, mas poderá haver também infecções mais internas. Portanto, o controle do psilídeo deverá ser feito em todo pomar, mas com aplicações mais frequentes onde se encontram mais psilídeos.
Francisco Assis Filho: A aplicação de inseticida pode aumentar a dispersão dos insetos para áreas não tratadas?
A maioria dos inseticidas aplicados via pulverização tem ação de contato e, uma vez em contato com o psilídeo, irão promover sua morte. Mas distúrbios dentro do talhão, como vento e barulho podem promover a dispersão do psilídeo.
Assim, para evitar que o inseto fique dispersando de um talhão para outro, é importante que todos talhões sejam tratados em um curto período de tempo.
Paulo Roberto Pereira de França: Quais os sintomas do HLB na murta e o local de postura do psilídeo, se é parte frontal ou dorsal das folhas?
Os sintomas de HLB na murta são folhas amareladas e seca de ramos, nada muito específico e nada fácil de se separar de outros problemas como deficiências nutricionais.
Os ovos na murta, assim como nos citros, são colocados sobre os brotos bem jovens, ainda com as folhas não expandidas.
Luis Felipe Raymundi Duarte: Continuo perguntando, qual a chance do greening chegar aqui no RS?
O psilídeo já está presente no RS, embora em baixas populações. Entretanto, ainda não há relatos da presença da bactéria. O risco de introdução existe tanto pela dispersão natural de psilídeos contaminados como pela introdução de plantas de citros ou murta contaminados, provenientes de outros estados com a presença da doença.
A doença já está presente no estado do Paraná e nas províncias de Corrientes e Misiones na Argentina, que fazem divisa com o RS.
Assim, é preciso estar sempre atento e promover ações de fiscalização do trânsito de materiais de citros e murta para dentro do estado.
Luiz Trufilho: Gostaria de saber como está a fiscalização em viveiros?
A fiscalização da sanidade de mudas nos viveiros é de responsabilidade da Coordenadoria de Defesa Agropecuária do Estado de São Paulo. Se o viveirista estiver seguindo todas as normas de produção de mudas (material propagativo livre de patógenos, produção em viveiro com tela anti-psilídeo) o risco das mudas saírem do viveiro contaminada é extremamente reduzido.
Jorge Ferreira: Temos importado muita muda cítrica de São Paulo. Pergunto, qual o risco do Greening ser introduzido aqui no RJ?
A fiscalização da sanidade de mudas nos viveiros paulistas é realizada pela coordenadoria de Defesa Agropecuária. Se o viveirista for indene e seguir rigorosamente as normas de produção de mudas em viveiro protegido, o risco dessas mudas introduzirem a doença em outros locais é praticamente zero.
Je Guarnieri: Como estão as avaliações do Fundecitrus com relação ao uso do pepitidio natural descoberto na Califórnia, que a Invaio está estudando?
O Fundecitrus firmou uma parceria com a Invaio para a avaliação da eficácia deste peptídeo em plantas de citros em condições de casa-de-vegetação. Os estudos ainda não foram iniciados e, portanto, ainda não temos resultados para divulgar.
Luiz Fenólio: Quais os resultados obtidos até o momento da avaliação de citros GM em avaliação pelo Fundecitrus?
O Fundecitrus iniciou os testes em campo com plantas GM de citros potencialmente repelentes ao psilídeo. As plantas estão com apenas dois anos e a doença apenas começou a aparecer em poucas plantas da área experimental. Portanto, ainda não temos resultados para divulgar.
Errera92: boa noite, qual a perspectiva de inclusão de novas moléculas inseticidas na lista Protecitrus?
Recentemente, dois novos inseticidas (mistura comercial dos inseticidas ciantraniliprole + abamectina SC e Sulfoxaflor SC) foram incluídos na ProteCitrus. Como esses foram eficazes (mortalidade ≥ 80%) no controle de adultos de Diaphorina citri, também foram incluídos no Guia de Controle de Pragas e Doenças e podem ser utilizados em rotação com os demais inseticidas no manejo do psilídeo. Novos produtos estão previstos para 2021/2022.
Como participar do Alerta Fitossanitário e quais os benefícios?
Para participar do Alerta Fitossanitário, que é uma ferramenta totalmente gratuita, é só entrar em contato com o Fundecitrus pelo telefone 0800-110-2155 ou diretamente com um dos agrônomos da região.
Em seguida, o citricultor receberá a visita de um agrônomo do Fundecitrus e será orientado sobre como cadastrar a propriedade, passará por treinamentos e iniciará o monitoramento do inseto, com a inserção de informações no sistema.
Ao participar do Alerta Fitossanitário, o cictricultor poderá acompanhar como está a população de psilídeos dentro de sua propriedade e na região, receberá informações detalhadas e alertas e, assim, poderá tomar as melhores decisões para o controle do inseto, contribuindo com o manejo eficiente em todo o cinturão citrícola.
Suely Brito: Com relação aos dados que alimentam o Alerta Fitossanitário, quem faz a leitura dos psilídeos capturados nas armadilhas adesivas? Os produtores ou o Fundecitrus?
Os próprios citricultores fazem as leituras das armadilhas e inserem os dados no sistema, que compila as informações e disponibiliza para todos.
Além disso, existe um monitoramento complementar, que o Fundecitrus faz nas 12 regiões do sistema de alerta para auxiliar os produtores que têm armadilhas a entender o que está acontecendo no entorno da propriedade.
Roger Entre Rios: As armadilhas amarelas são utilizadas com feromônio? Ou são as armadilhas comuns?
As armadilhas adesivas amarelas são utilizadas sem feromônio. O inseto é atraído pela cor e capturado quando entra em contato com a cola da armadilha.
Danilo Yamane: Nos pomares de sequeiro do N do estado de SP, os quais encontram-se bem murchos, há a necessidade de aumentar intensidade controle psilídeo em função do aumento populacional observado recentemente?
O controle do psilídeo deve ser mantido mesmo em períodos de déficit hídrico, principalmente em altas populações. As chuvas irregulares deste ano de 2021 têm favorecido as brotações constantes das plantas cítricas e os períodos sem chuvas facilitam a migração do inseto.
Para assistir ou rever o webinar, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=j1cFaLEKOX0
Confira alguns materiais sobre o controle do psilídeo e do greening: https://www.fundecitrus.com.br/comunicacao/manuais