Pesquisa mostra regiões do país e épocas do ano mais favoráveis ao cancro cítrico
São Paulo apresenta boas condições climáticas para uma epidemia da doença
As condições climáticas do Estado de São Paulo serão cada vez mais favoráveis ao desenvolvimento do cancro cítrico, uma das principais doenças de citros, de acordo com uma pesquisa realizada pelo Fundecitrus e Embrapa Meio Ambiente sobre o efeito das mudanças climáticas sobre as doenças de citros.
Os resultados foram apresentados, na terça-feira (14), pelo pesquisador do Fundecitrus Renato Beozzo Bassanezi, no XXXV Congresso Paulista de Fitopatologia, realizado na sede da Embrapa Meio Ambiente, em Jaguariúna.
O estudo toma por base modelos que associam a severidade da doença com as condições de temperatura e o molhamento foliar. Com o uso de informações sobre as condições climatológicas entre 1961 e 1990 e as projeções climáticas futuras do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) foram determinados locais e épocas do ano mais favoráveis ao aumento do cancro sob a hipótese de que a planta é suscetível e haja a presença da bactéria.
Os mapas de favorabilidade da doença gerados foram validados pelos levantamentos amostrais feitos no campo pelo Fundecitrus, desde 1999. As regiões Noroeste e Oeste do Estado de São Paulo são historicamente as mais favoráveis à doença e entre os meses de outubro a março, quando há condições de alta temperatura e umidade ocorrem maiores probabilidades de desenvolvimento do cancro (veja mapa ao lado).
“Os resultados mostram que o rigor na prevenção e no controle da doença em São Paulo deve ser mantido porque a doença teria condições muito favoráveis de desenvolvimento no Estado”, afirma Bassanezi.
Com o modelo validado para São Paulo, os resultados foram ampliados para as condições climáticas de outras regiões do Brasil, gerando mapas que mostram que todos os estados ao norte de São Paulo são muito favoráveis ao desenvolvimento do cancro cítrico, caso a bactéria chegue aos pomares destes estados, exceto na região mais seca do Nordeste e Centro Oeste nos meses de julho a outubro, quando a ausência de molhamento foliar limitaria o desenvolvimento da doença. Hoje o cancro cítrico está limitado aos estados da região Sul do país, São Paulo e Roraima.
Já nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, condições mais adversas para o crescimento da doença são observadas num maior período do ano e numa maior extensão, principalmente pelas condições mais amenas de temperatura.
“Podemos supor, com base nas observações, que esta seja uma das razões pela qual estes estados consigam conviver com o cancro cítrico. Por outro lado, o trabalho de supressão desenvolvido em São Paulo, com a erradicação dos focos da doença, serviu como um filtro e impediu, até agora, que a doença se espalhasse pelo restante do país muito mais favorável a epidemias severas”, diz o pesquisador.
Futuro
De maneira geral, as condições climáticas favorecerão o cancro cítrico no Brasil no futuro, mas, de acordo com as projeções realizadas pela pesquisa, nos próximos 20 anos, as condições de favorabilidade irão em sentidos extremos. Épocas do ano propícias à doença hoje se tornarão muito favoráveis e épocas que hoje são pouco favoráveis serão desfavoráveis no futuro.
“A temperatura deverá aumentar, o que é acelera o crescimento do cancro cítrico, mas, por outro lado, haverá extremos de precipitações, com meses extremamente secos e outros extremamente chuvosos”, explica Bassanezi.
O estudo faz parte do Climapest um projeto sobre os impactos das mudanças climáticas globais sobre os problemas fitossanitários de diversas culturas no Brasil. Em citros, as pesquisas ainda contemplam os efeitos das mudanças climáticas no desenvolvimento da larva minadora, do bicho furão, do psilídeo transmissor do greening, do ácaro da leprose e da pinta preta.