Greening cresce pelo quarto ano consecutivo e alerta para necessidade de endurecimento das ações de controle
Incidência de greening chega a 22,37%, maior patamar desde sua identificação no Brasil, em 2004, aponta novo levantamento do Fundecitrus
O levantamento anual de greening realizado pelo Fundo de Defesa da Citricultura - Fundecitrus mostra que a doença está presente em 22,37% das laranjeiras do cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro, principal região produtora de laranja do mundo, o que equivale a mais de 43 milhões de árvores doentes dentre um total de 194 milhões de plantas.
Em relação ao ano passado, a incidência cresceu 7,2%, e este já é o quarto salto consecutivo da doença (2018: 18,15%; 2019: 19,02%; 2020: 20,87%), considerada a mais destrutiva da citricultura mundial devido aos sérios danos causados à produção e por não haver cura para as plantas contaminadas.
Diante deste cenário, o gerente-geral do Fundecitrus, Juliano Ayres, avalia que a necessidade de agir contra a tendência de crescimento é urgente.
“Chegamos a um patamar crítico, pois o avanço do greening tem potencial de inviabilizar não só pomares comerciais de forma isolada, mas até mesmo regiões inteiras. E, considerando que o controle insuficiente em uma fazenda afeta todas as propriedades citrícolas do entorno, a situação exige a conscientização do setor e a adoção de ações rigorosas de manejo interno e externo”, afirma. “A velocidade com que a doença aumenta ou diminui é proporcional à adesão dos citricultores”, destaca.
O levantamento revela ainda um aumento de 50% do greening em pomares jovens (até cinco anos), acumulando incidência de 10,21%, o que reflete uma maior dificuldade de controle nesta fase, em que as plantas são mais suscetíveis à doença. Outro dado relevante é o crescimento de 10% da doença em grandes propriedades, que representam 65% de toda a área cultivada, chegando a 15,4% nos pomares com mais de 100 mil plantas.
A análise do pesquisador do Fundecitrus Renato Bassanezi permite observar como o greening pode comprometer a competitividade da citricultura paulista e mineira.
“O avanço da doença leva a grandes prejuízos, como aumento da taxa de queda de frutos e diminuição da produção, que acarretam em menor longevidade produtiva dos pomares. Além disso, piora a qualidade da fruta e aumenta a dificuldade de controle nos plantios novos, afetando a renovação e ampliação dos pomares, o que fará com que a citricultura migre para outras regiões e estados”, avalia.
Clima e manejo pouco rigoroso são as principais causas
O ano de 2020 registrou população recorde do inseto transmissor do greening, o psilídeo, devido uma combinação de fatores. Houve alta intensidade de brotações em um período atípico (abril a junho), quando costuma ser baixa e o controle do psilídeo menos frequente, o que favoreceu o aumento populacional do inseto, que prefere os brotos para se alimentar e se reproduzir. A estiagem que veio no segundo semestre não foi suficiente para reverter o quadro, uma vez que o clima quente na maior parte do cinturão citrícola foi bastante propício para sua reprodução e dispersão.
“Sempre que há aumento da população do psilídeo, há aumento da incidência da doença de seis a dez meses depois”, esclarece Bassanezi.
Outro motivo para o aumento da população de psilídeos e, consequentemente, do greening está ligado a não eliminação de plantas doentes, especialmente em pomares adultos, e ao menor rigor no controle do psilídeo nesses pomares – como essas plantas infectadas são fonte de contaminação, é necessário evitar que o inseto chegue até elas, adquira a bactéria e a transmita a plantas sadias.
“Falhas no controle do psilídeo dentro das propriedades agravam a situação, o que inclui a adoção de intervalos de aplicação muito longos, cobertura inadequada das plantas devido a equipamentos mal ajustados e falta de rotação de produtos, pontos que não combatem o inseto de forma efetiva e permitem que ele se prolifere nos pomares”, aponta Bassanezi.
Caso de sucesso: greening diminui na região de Matão
Considerando as regiões produtoras que compõem o cinturão citrícola, as maiores incidências de greening estão em Limeira (61,75%), Brotas (50,4%), Porto Ferreira (37,84%) e Avaré, que teve um grande aumento em relação a 2020 (de 16,77% para 29,41%). Em Duartina, a incidência continua alta (26,15%), mas se mantém estável.
As menores incidências estão em Votuporanga (0,05%), Triângulo Mineiro (0,14%), São José do Rio Preto (5,32%), Itapetininga (apesar de acumular 4,25%, o índice em 2020 era de apenas 1,63%), Bebedouro (9,98%) e Altinópolis (12,59%).
A boa notícia é que a doença diminuiu novamente em Matão (de 14,47%, em 2020, para 9,77%).
“O controle do greening nessa região é resultado da ação coletiva, ou seja, da adoção, pela maioria dos citricultores, de alto rigor no controle do psilídeo dentro dos pomares e ações também fora das fazendas, reduzindo fontes de inóculo e a população do inseto em áreas com plantas hospedeiras [citros e murta] sem controle, o que se soma à implantação de novos pomares e à erradicação de áreas muito afetadas”, descreve o pesquisador do Fundecitrus. “Nossos estudos mostram o impacto positivo da adoção das ações de controle externo, com potencial de reduzir de 2 a 3 pontos percentuais a incidência de greening em uma região, o que é extremamente significativo”, comenta.
O greening chegou ao Brasil em 2004 e, desde então, muito conhecimento foi gerado para controlar a doença. A atual incidência é a mais alta já registrada, porém, uma projeção do Fundecitrus aponta que ela poderia ser muito maior, de 95%, se nenhuma medida de controle tivesse sido adotada.
“A citricultura brasileira tem conhecimento suficiente para reduzir a doença, pois as pesquisas realizadas pelo Fundecitrus e parceiros conseguiram compreendê-la em seus diversos aspectos, o que levou à criação de um pacote de manejo integrado que é eficiente, mas que precisa ser seguido com rigor pela maioria dos citricultores para se obter sucesso”, afirma o gerente-geral da instituição, Juliano Ayres. “A queda do greening em uma região paulista com condições climáticas extremamente favoráveis à doença comprova isso”, exemplifica.
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