Greening atinge 18,15% das laranjeiras de SP e MG, maior incidência desde que a doença foi identificada no Brasil, em 2004
Índice, que cresceu 8,5% em relação ao ano passado, corresponde a mais de 35 milhões de árvores doentes no cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo e Sudoeste Mineiro
O greening (huanglongbing/HLB), principal desafio fitossanitário da citricultura mundial, afeta 18,15% das laranjeiras do cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo e Sudoeste Mineiro – em números absolutos, são aproximadamente 35,3 milhões de árvores doentes.
Divulgada na manhã de hoje (23/8) pelo Fundecitrus – Fundo de Defesa da Citricultura, a incidência, a maior já registrada em SP e MG, é 8,5% superior à observada em 2017, estimada em 16,73%.
“O problema é sério e a situação é preocupante”, afirma o gerente-geral do Fundecitrus, Juliano Ayres. “Só a conscientização, o que envolve também a sociedade, uma vez que o inseto transmissor da doença [psilídeo Diaphorina citri] chega aos pomares comerciais contaminado com a bactéria depois de se alimentar em plantas de citros em quintais, chácaras e ranchos, e a intensificação do controle podem mudar esse cenário”, diz Ayres.
O Fundecitrus divide o parque citrícola em 12 regiões. Em cinco delas – Brotas, Duartina, Altinópolis, Porto Ferreira e Avaré –, a incidência da doença aumentou. As regiões com maior incidência de laranjeiras com greening são Brotas (58,16%), Limeira (34,01%), Duartina (32,78%), Porto Ferreira (27,41%) e Matão (18,32%). As regiões com menor incidência são Triângulo Mineiro (0%), Itapetininga (1,73%) e Votuporanga (1,96%). No Triângulo Mineiro, o fato de não terem sido encontradas plantas sintomáticas nas amostras sorteadas pelo levantamento indica que a doença está presente na região em níveis muito baixos.
Sinal de alerta
A incidência de greening cresceu em três das quatro faixas de grupo de idade – de 3 a 5 anos, de 6 a 10 anos e acima de 10 anos –, em duas das quatro faixas de tamanho da propriedade – de 100,1 mil a 500 mil árvores e acima de 500,1 mil árvores – e em três das quatro faixas de nível de severidade – estágio intermediário, estágio severo e estágio gravíssimo.
“Os dados coletados e as informações acumuladas mostram que os citricultores médios e grandes, sabendo que as plantas jovens são mais vulneráveis à doença e buscando evitar que elas sejam contaminadas antes de começarem a produzir, vêm redobrando o cuidado com os pomares em formação, mas o controle dos pomares mais velhos está sendo insuficiente”, analisa Ayres.
Boa notícia
O levantamento mostrou que a incidência da doença caiu nos pomares com plantas de 0 a 2 anos. Isso demonstra que o citricultor está evoluindo no manejo da doença e que o rigor, principalmente, no controle do psilídeo vem aumentando. Outro fator fundamental são as ações regionais integradas.
“A maioria dos produtores já entendeu que a doença não tem cura, que não existem tratamentos alternativos e que quanto mais elevada a severidade, maior a queda de produtividade. Portanto, as plantas que ficarem doentes antes de alcançarem a idade de produção [por volta de 3 anos] e o ápice produtivo causarão prejuízos que podem levar à inviabilidade do negócio. Por isso, a preocupação com os pomares mais jovens”, avalia Ayres.
Risco
O resultado deste trabalho indica que o manejo da doença precisa ser intensificado dentro e fora das propriedades para que o greening não inviabilize a produção do parque citrícola paulista e mineiro. A situação atual da Flórida, no sudeste dos Estados Unidos, considerada dramática, tem de servir como lição.
“Há 20 anos, a citricultura da Flórida era exemplo para o mundo, representava o modelo a ser seguido. Mas eles [citricultores] erraram na estratégia de combate ao greening, e o resultado é desalentador: estima-se que mais de 90% das árvores estejam doentes, e a produtividade vem caindo drasticamente. Na safra 2007/08, eles colheram 170 milhões de caixas de laranja. No ano passado, colheram 45 milhões de caixas [44,95 milhões]. A produção caiu de um patamar de 1.000 caixas/hectare para 350 caixas/hectare”, diz Ayres.
Para o gerente-geral do Fundecitrus, a sustentabilidade da citricultura paulista e mineira depende do controle rígido do greening para que a incidência diminua e, assim, SP e MG mantenham a qualidade, produtividade e liderança do setor.
“A citricultura paulista é uma cadeia do agronegócio que movimenta anualmente US$ 15 bilhões [Markestrat, 2010], arrecada US$ 180 milhões em impostos para 350 municípios de São Paulo e Minas Gerais e gera cerca de 200 mil empregos diretos e indiretos. É essa riqueza que o greening põe em risco”, diz.
Futuro
O programa integrado de combate ao greening #unidoscontraogreening, lançado oficialmente no evento de divulgação do levantamento, foca principalmente o manejo externo, ou seja, o controle da população de psilídeo fora dos pomares comerciais – em pomares abandonados e em áreas urbanas com plantas de citros que não recebem o tratamento químico adequado e com murtas (damas da noite), onde o inseto se reproduz.
O Fundecitrus, em parceria com a Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA) do Estado de São Paulo, municípios (prefeituras e secretarias), citricultores e empresas do setor, dispõe de engenheiros e técnicos agrônomos que abordam moradores, mostram a força da citricultura para a cidade e região, explicam sobre o perigo do greening e sugerem a troca das plantas de citros (laranja, limão e tangerina) e das murtas por outras espécies frutíferas ou ornamentais.
“A cadeia está se movimentando, e isso é extremamente positivo”, comenta Ayres. “Estamos [Fundecitrus] percorrendo todos os setores e regiões do cinturão citrícola, e a adesão, a aceitação da substituição é muito alta. Em geral, as pessoas entendem. Mas o parque é vasto. É um trabalho incessante e contínuo, que depende sempre do entendimento da ameaça de uma tradição histórica e cultural”, relata.
De acordo com o citricultor e presidente do Fundecitrus, Lourival Carmo Monaco, o programa integrado de combate ao greening fortalece o entendimento de que os desafios não se limitam aos trabalhos dentro dos portões das fazendas, mas sua eficácia depende do envolvimento de toda a sociedade para compreender e colaborar com esse desafio importante do ponto de vista social e econômico. “O programa ‘Unidos contra o greening’ materializa a necessidade de uma ação solidária de toda a sociedade, pois a ameaça está em cada canto de cada cidade. É importante ressaltar que esse trabalho se desenvolverá, como uma batalha essencial, enquanto nossas pesquisas buscam incessantemente encontrar outras soluções que nos assegurem vencer essa guerra. Não podemos baixar a guarda, pois o inimigo está presente e desafiante”, conclui Monaco.
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