Florada e manejo da podridão floral: principais dúvidas dos citricultores
Durante o webinar realizado pelo Fundecitrus sobre a florada dos citros e o manejo da podridão floral, diversas dúvidas foram levantadas pelo público.
Além das perguntas já respondidas durante o evento online, disponibilizamos as respostas a todas essas dúvidas enviadas, que auxiliam a compreender melhor a doença e são importantes orientações para o manejo.
Grassiele Alves - O cobre metálico aplicado em florada pode influenciar no abortamento de flores?
Geralmente, devemos evitar tratamentos fitossanitários durante a floração e até ao final da queda de junho. Porém, isso nem sempre é possível, até porque algumas doenças devem ser controladas nessa fase do ciclo da planta. O cobre afeta o crescimento do tubo polínico e, por isso, pode diminuir a taxa de pegamento. Esse efeito só se verifica nas cultivares com sementes e não em todos os casos. Algumas formulações de cobre não têm esse efeito. Adicionalmente, o cobre não tem efeito sobre a podridão floral, que afeta as plantas nessa fase.
Alex Soares Fernandes - Qual a influência do HLB (planta infectada) sob o pegamento e uma florada uniforme na planta?
As plantas com HLB tendem a ter mais brotações e mais floradas que as plantas sadias. Essas floradas são menos intensas e o pegamento do fruto pode ser pior. Além disso, podem ocorrer quedas de frutos posteriormente.
Grassiele Alves - Um florescimento que vem sem vegetação, como será esse pegamento?
A percentagem de pegamento será baixa, mas, mesmo assim, a produção poderá ser satisfatória. O pegamento também depende de vários outros fatores. As variedades que produzem frutos sem sementes têm tendência para ter mais problemas de pegamento com uma florada dessa. Recomenda-se, nessa situação, ter bastante atenção à nutrição da planta.
Diego Pereira - Poderia falar novamente sobre os produtos e doses?
Os produtos mais eficientes são as misturas de triazol + estrobilurina. Recomendamos usar as doses de 2 mg de estrobilurina + 4 mg de triazol por m3 de copa. Por exemplo, se um pomar tem 30.000 m3 de copa/ha, vai ser necessário aplicar 60 g de estrobilurina + 120 de triazol por ha. Se o produto comercial tiver 10% de estrobilurina + 20% de triazol, a dose dele será de 600 mL/ha, mas se o produto for mais concentrado 12% + 24% de ativos, a dose comercial será de 500 mL/ha.
José Renato Melare - Existem diferenças de susceptibilidade entre tangerinas e laranjas?
A podridão floral afeta praticamente todas as variedades comerciais de citros. As flores de laranja doce, de tangerina e outras espécies de citros apresentaram suscetibilidade semelhante. Entretanto, a doença tem causado danos mais severos em clones de laranja ‘Natal’ com flores mais agrupadas e em laranjas que apresentam vários surtos de florescimento, como a ‘Pera’. Grandes prejuízos também têm sido reportados em limões e limas ácidas. A laranja ‘Hamlin’ e outras precoces, bem como os pomelos e a laranja doce, em geral, apresentam menos problemas relacionados à podridão floral. Há pouca informação na literatura a respeito de danos nas tangerinas e híbridos.
Marcio Bonato - Aqui na Bahia a florada para melhores preços ocorre em pleno inverno, que é a época de muita chuva. Tem algum tratamento diferente?
Se a florada ocorrer durante o período de chuvas frequentes e intensas, é importante pulverizar antes das chuvas e, se as chuvas se prolongarem por 2-3 dias consecutivos, deve-se proteger as flores novamente, pois os produtos podem ser lavados e a quantidade de fungo aumentada com muita chuva.
Gladston Chagas - Qual a influência da combinação: temperatura, umidade e molhamento no desenvolvimento do fungo?
O fungo pode germinar entre 10 e 35 graus, mas as temperaturas em torno de 25 graus são mais favoráveis para a germinação e infecção das flores. Elas devem estar associadas com molhamentos de pelo menos 12 horas para que as flores sejam infectadas em proporções significativas. Quanto maior o molhamento, maior a proporção de flores infectadas.
Vanelise Santos - No estado do Paraná há bases de monitoramento? Gostaria de obter estes alertas para informar aos produtores.
No Paraná ainda não há estações instaladas, mas a Cocamar (parceira do Fundecitrus) está em fase de aquisição de estações para inclusão no sistema.
Grassiele Alves - O que dizer de uma nutrição, adubação com o clima seco e frio, sem chuva? Nutrir e adubar em qual período nesta situação?
A nutrição deve ser feita com base nas análises de solo e foliar. Geralmente são realizadas durante o período chuvoso, que em São Paulo ocorre de setembro a março, para que os nutrientes sejam absorvidos pela planta de forma mais eficiente.
A adubação deve ser realizada com base nas análises de solo e foliar, além do histórico/expectativa da produção de frutos no pomar (quando adulto). Geralmente, são realizados três parcelamentos das quantidades totais do ano (quando realizada com adubos sólidos e em cobertura), durante o período chuvoso, que em São Paulo ocorre de setembro a março, para que os nutrientes sejam absorvidos pela planta de forma mais eficiente. As fases mais importantes para adubação ocorrem do início do florescimento, durante a frutificação, até o final do crescimento do fluxo vegetativo de verão. Também é possível realizar a adubação via fertirrigacão com o uso de fontes solúveis, cuja prática permite grande número de parcelamento das doses de adubos e maiores ganhos de eficiência de uso dos nutrientes no pomar. Alguns pomares fazem uso da irrigação, às vezes adiantando a quebra do estresse das plantas que ocorreria naturalmente com as chuvas. Nessa oportunidade, com a retomada do desenvolvimento das árvores, a aplicação dos adubos via fertirrigação deve atender à demanda de nutrientes que também antecipa o período normal da cultura.
Contribuição de Dirceu Mattos Jr. - pesquisador científico e diretor do Centro de Citricultura Sylvio Moreira - Instituto Agronômico
Herbert Guimaraes - Seria possível que o sistema da Fundecitrus fosse ampliado e disponibilizado para atender a região nordeste?
O Fundecitrus ainda não tem parceiros interessados na ampliação do sistema para o Nordeste. Acreditamos que essa ampliação seria dependente da instalação de estações em propriedades de citros na região Nordeste.
José Renato Melare - Qual período de controle podemos adotar para reaplicar os triazóis e estrobirulinas, se necessário for?
Rogerio Romeiro Da Silva - Se proteger antes e se chover muito eu perco meu ingrediente ativo, vale a pena pulverizar antes?
Se chover muito e o sistema indicar risco extremo é aconselhável reaplicar o produto, principalmente em áreas com botão expandido e flor aberta. Chuvas acima de 25 mm podem remover o produto das flores em quantidades significativas. Portanto, se o produto for aplicado, chover 25 mm e tiver previsão de mais chuvas para os próximos 7 dias, é recomendável reaplicar o produto (somente nas fases críticas de botão expandido e flor aberta).
Thiago Garcia - Alguém poderia falar algo sobre a escolha das pontas de pulverização, tamanho de gota e adjuvante na calda?
Sugerimos consultar nosso Manual de Tecnologia de aplicação e seguir as recomendações para uso de pontas do tipo jato cônico vazio que produzam gotas finas (100 a 200 µm). Existem diferentes marcas e tipos de pontas no mercado e a maioria delas usam faixa de pressão entre 100 e 200 psi. Os fungicidas podem ser aplicados sem adjuvante ou com óleo mineral ou vegetal em plantas molhadas.
Diego Pereira - Ciprodinil?
O ciprodinil foi testado em mistura com o fludioxonil e apresentou controle intermediário, inferior ao das misturas de triazol + estrobilurina. Entretanto, o ciprodinil não está incluído na Protecitrus e não deve ser usado em pomares para a produção de suco para exportação.
Vanessa costa - Boa noite, e o Carbendazim?
O carbendazim apresentava excelente efeito em mistura com o folpet, com controle similar ao da mistura de triazol + estrobilurina. Esse fungicida aplicado isoladamente apresentava controle intermediário. Entretanto, ele foi removido da Lista Protecitrus (antiga PIC) em 2012 e não pode mais ser usado em pomares para a produção de suco para exportação.
Brito Rasdor - Em geadas e baixas temperatura tem risco de termos um pegamento e uma florada fraca?
As geadas são sempre negativas para os citros, principalmente durante a florada. Temperaturas baixas, mas acima do nível de geada, têm efeitos positivos numas fases do ciclo da planta e negativos noutras fases. Temperaturas baixas, entre 5 °C e 15 °C, por exemplo, antes da época de florada, contribuem para uma boa florada. Durante a florada é bom termos temperaturas mais altas. Temperaturas baixas durante a florada podem levar a um baixo pegamento do fruto, bem como estender o florescimento e aumentar os problemas com a podridão floral.
Rogerio Romeiro Da Silva, Wilson Pavin e Brito Rasdor - Com as geadas e baixas temperaturas que ocorreram recentemente, há risco de termos um pegamento e uma florada fraca?
Se as geadas ocorreram já depois da abertura das flores, sim, o pegamento pode ser diminuto. Se as geadas ocorreram antes do início da florada e as árvores não ficaram visivelmente afetadas, a florada até pode ser mais intensa e não há problema com o pegamento do fruto. Durante a florada, temperaturas baixas podem prejudicar o pegamento, mesmo que não se forme geada.
Ulisses Fiorino – O calor que está vindo aí não seria pior do que a umidade, já que não tem previsão de chuvas aqui no estado de são Paulo?
Temperaturas muito altas (acima dos 35 °C) podem prejudicar o pegamento do fruto. O calor sem chuva pode conduzir ao estresse hídrico da planta, se não houver irrigação. Nesse caso, há uma grande queda de flores e frutinhos, sendo o pegamento muito reduzido.
José Renato Melare - Em condições de não seca e não frio, aqui no BR, há possibilidade do estresse químico?
O “estresse químico” talvez não seja a melhor opção, até porque as plantas estão com frutos ao longo de (quase) todo o ano. Porém, a aplicação de reguladores de crescimento pode ser uma opção. Há alguns resultados promissores, mas ainda não há tratamentos bem definidos para cada variedade. Portanto, poderá ser uma solução para o futuro, mas não nos parece que seja utilizável neste momento.
José Renato Melare - Quantas horas de frio deve haver para uma boa florada?
Estudos na Flórida apontam para 800 a 1000 horas de temperaturas abaixo de 20 °C. Porém, nem sequer está bem estabelecido que seja essa a temperatura limite que deve ser considerada. Há quem considere temperaturas abaixo de 19 °C ou regimes de 13 a 15 °C durante o dia e 10 a 13 °C à noite, ou ainda 16 °C durante o dia e 12 °C à noite. Sabe-se que algumas variedades são mais exigentes em frio para florir, pelo que as necessidades de frio deveriam ser determinadas para cada variedade, como se faz com as fruteiras de zonas temperadas, relativamente às horas abaixo de 7 °C.
José Renato Melare - A dúvida é sobre utilizar produtos que contribuam no aumento da divisão celular (fase I) e utilizar produtos para expansão celular (fase II). E se há um limite de tamanho de fruto para aplicação.
Supomos que estes tratamentos seriam para aumentar o calibre do fruto. Cada substância tem o momento de aplicação ótimo, em função do tamanho do frutinho, determinado para cada variedade. Tratar mais cedo pode levar a uma queda exagerada (diminuição do pegamento) e tratar mais tarde pode ser completamente ineficaz.
Rogerio Romeiro Da Silva - Caulim serve como protetor solar?
O caulim processado foi desenvolvido inicialmente para ser utilizado como um “protetor solar”, pois tem partículas muito finas. Posteriormente, foi verificado efeito sobre alguns insetos pragas e patógenos. Por esse motivo, produtos comerciais à base de caulim têm sido estudados para utilização no manejo fitossanitário dos citros.
Fernando Antonio Rangel Janini - Poderia falar sobre aplicação com bacillus subitlis e bacillus amyloquefacens 3 dias antes ou após o defensivo?
Vários produtos à base de Bacillus foram testados na dose de 2 L/ha e não controlaram a podridão floral. Os produtos estão sendo avaliados no campo em doses mais altas, de até 6 L/ha.
Leovaldo Corte - Ácido peracetico previne podridão floral?
As aplicações de produtos na florada devem possuir efeito residual sobre as pétalas e proteger as flores por pelo menos 7 dias. O ácido peracético, bem como outros desinfestantes, tem um efeito mais erradicante e com pouca capacidade residual. Portanto, não são produtos com efeito significativo na proteção das flores contra a podridão floral.
Rafael Santos - Qual a hora certa pra aplicação?
Sugiro consultar o nosso manual de tecnologia de aplicação, pois são informadas todas as condições ideais para aplicação que devem ter temperatura abaixo de 30 °C, umidade do ar acima de 55% e vento de 3 a 10 km/h.
Eslocar Emater Rio - Jorge Ferreira de Souza - Na situação de ter que usar o óleo, tanto faz usar o mineral ou o vegetal?
Todos os óleos com boa procedência e de empresas idôneas podem ser usados, tanto o mineral quanto o vegetal.
Edgar Campos - O adubo conhecido como super simples ajuda para obter uma florada de qualidade?
Para que a planta tenha uma boa florada e uma boa produção, ela deve estar bem nutrida, de forma equilibrada. O superfosfato simples pode contribuir para o bom estado nutritivo da planta. O fósforo contido neste adubo é essencial para a floração.
Germano Pires - O Boro ajuda mesmo no pegamento?
Para que a planta tenha uma boa florada e uma boa produção, ela deve estar bem nutrida, de forma equilibrada. O Boro ajuda, sim. Ele é essencial na florada, mas se houver uma carência de algum macronutriente, o boro não vai ajudar. Agora, com um pomar bem nutrido, uma aplicação de boro pode diminuir a queda de frutinhos e aumentar a produção.
Anderson Oliveira - Quais nutrientes são essenciais para a planta conseguir uma boa florada?
Para que a planta tenha uma boa florada e uma boa produção, ela deve estar bem nutrida, de forma equilibrada. Uma aplicação exagerada de algum nutriente, ainda que essencial, pode levar a desequilíbrios que prejudiquem o estado nutritivo da planta no seu todo.
Haverá necessidade de fazer análises foliares para verificar se os níveis de nutrientes são os adequados. Essas análises devem ser feitas antes da florada, porque as flores são nutridas sobretudo com os nutrientes de reserva da planta e não tanto como aqueles que são aplicados durante a florada. Algumas aplicações foliares de micronutrientes podem melhorar o pegamento do fruto, mas o seu efeito depende da variedade e do estado nutritivo da planta.
Rubens Stamato - Uso de 2,4D (Auxina) ajuda melhorar o pegamento?
Resposta do professor Amílcar: o 2,4-D é uma auxina com efeito sobre o pegamento do fruto, que pode melhorar o pegamento, mas também pode provocar queda de frutinhos. O seu efeito é mais estável no aumento do tamanho do fruto. As auxinas devem ser aplicadas com muito cuidado. Em primeiro lugar, pela sua toxicidade, sobretudo para quem as aplica. Em segundo lugar, porque os seus efeitos podem variar muito em função da variedade, da época de aplicação (estado fisiológico da planta) e das condições de aplicação (sobretudo da temperatura). A aplicação deve ser sempre supervisionada por um agrônomo com experiência neste tipo de tratamento.
Complemento do Fundecitrus: não há registros para uso na agricultura somente como herbicida e ela não está listada na ProteCitrus.
Silvio Turbiani - Fazendo aplicação de Cálcio e Boro para pegamento e logo após aplicar a Auxina, Giberilina e Citocinina juntos, vai potencializar o pegamento de florada?
Todas essas substâncias têm efeito sobre o pegamento do fruto. A sua aplicação sucessiva pode dar bons resultados se o pomar estiver em boas condições, bem fertilizado, etc. É de duvidar se o retorno econômico justifica esses tratamentos, se não houver um problema de improdutividade muito específico. Recomenda-se avaliar o efeito somente em algumas árvores de cada variedade onde se pretenda aumentar o pegamento do fruto.
Flavio Souza - O uso de aminoácidos ajuda na floração?
A aplicação de aminoácidos pode melhorar o estado nutritivo da planta em geral e, por sua vez, também contribuir para uma boa florada. Não tem um efeito claro e específico sobre a florada.
Rogerio Romeiro Da Silva - Espalhante Dubai, ele é bom?
Nós não temos resultados desse espalhante para a podridão floral. A doença pode ser controlada eficientemente sem adição de adjuvantes. Apenas quando a planta estiver molhada que sugerimos fazer o uso do óleo.
Para assistir ou rever o webinar, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=_8Qu3YtiTBw
Consulte nossos materiais sobre o controle de pragas e doenças: https://www.fundecitrus.com.br/comunicacao/manuais