Meu fundecitrus

Comunicação

ARTIGO: Falsas Esperanças - Cícero A. Massari

Quando se trata de nossa saúde e diante de uma situação de desespero é comum buscarmos apoio em tudo o que estiver ao alcance. Mesmo sem comprovação científica. Mediante a uma ameaça, tudo parece se justificar em busca da cura.


No mundo do agronegócio isso também é válido para a sanidade das plantas. Plantas acometidas por ataques de pragas ou infestações de patógenos disparam uma reação imediata dos produtores, na maioria das vezes, fazendo uso de defensivos agrícolas. Entre outras formas, o controle de pragas e doenças pode ser feito preventivamente ou de maneira curativa. O controle preventivo - antes que o agente causal provoque danos à cultura, é o mais indicado. No entanto, muitas vezes faz-se necessário o uso de aplicações curativas - quando os sintomas do indesejável são bastante evidentes. Como para a saúde humana é preciso ter conhecimento se as ações de cura estão calcadas em resultados de comprovada eficiência, para que não sejam criadas falsas esperanças. O caso é agravado no agronegócio quando essa falsa esperança acarreta despesa adicional, geralmente altíssima, por ser “milagrosa”.


A citricultura tem apresentado quadros crescentes das doenças greening e cancro Cítrico, causadas por bactérias impossíveis de serem controladas por intermédio de defensivos agrícolas em um processo de cura. Na esperança de salvar seu pomar, muitos citricultores caem no “conto do vigário”, já que estão em desespero e em busca de solução. Como se não bastassem os prejuízos que estão se acumulando em função dos danos causados pelas bactérias, pagam caro por aquilo que não passa de uma falsa esperança.


Se a opção for por prolongar a vida do pomar por meio de métodos paliativos, ou mesmo procurando deixar as plantas melhores nutridas para enfrentarem as bactérias invasoras, que isso não encareça em demasia sua atividade.


No entanto, esse oportunismo do setor comercial não é novidade. A aplicação de aminoácidos nos pomares foi indicada no passado sob o argumento de que o ácaro causador da leprose passaria a se alimentar desses aminoácidos e não mais das células das plantas.


Em meados da década de 80 vários focos de cancro cítrico foram encontrados no município de Borborema, pois a localização de pomares, às margens do rio Tiete, favorecia (e favorece) muito as condições para a epidemia. Não demorou muito para surgirem as falsas esperanças. Propriedades com focos da doença eram frequentemente visitadas por vendedores do “elixir da juventude”, tratava-se de creolina disfarçada em embalagem diferente e contendo outro componente intitulado como “segredo” da formulação e a razão de um custo bastante significativo para a aquisição. Muitos citricultores acreditaram, pagaram caro e acabaram tendo seus pomares eliminados.


A história continua a se repetir. É fácil encontrar no mercado produtos que prometem o controle das piores doenças de citros. Para o greening, basta pulverizar o “milagroso”, que planta doente sara e planta sadia não se contamina. No caso do cancro, recomenda-se aplicar o “milagroso” em mistura a um produto cúprico. É importante que se diga que produtos à base de cobre são eficientes para minimizar os danos da doença, mas a planta doente continuará a apresentar sintomas de cancro. Então se questiona, porque o “milagroso”?


Manter falsas esperanças pela cura de plantas com greening e cancro faz o citricultor perder mais dinheiro ainda, fato que pode prejudicar a sua saúde.

 

*Cícero Augusto Massari – engenheiro agrônomo e gerente técnico do Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura)
 

Tags: