Artigo do presidente: Rastreabilidade na cadeia de citros
Lourival Carmo Monaco
Presidente do Conselho Deliberativo do Fundecitrus
Nos últimos anos temos assistido frequentes notícias de recall de veículos e outros produtos para substituição de peças com defeitos que poderão causar acidentes ou desgastes. Trata-se de uma evolução de conceito de rastreabilidade que vem sendo incorporado, particularmente, nas produções industriais. Esse conceito evoluiu a partir dos programas de controle de qualidade ou mesmo na gestão de estoques como o bem conhecido código de barras.
A rastreabilidade se caracteriza pela capacidade de conhecer o fluxo de cada produto ao longo do processo produtivo seja de fabricação ou de montagem. A metodologia vem evoluindo rapidamente graças a sistemas informatizados que permitem alavancar a produtividade sem perder de vista o controle dos produtos em tempo real.
A rastreabilidade vem sendo incorporada a todas as cadeias produtivas permitindo harmonia em todo o processo gerando melhor confiabilidade e garantido o pleno atendimento de qualidade de cada produto. Os agentes da produção, mão de obra, materiais e insumos precisam estar harmonicamente sincronizados o que levará as cadeias produtivas a ajustarem os processos de controle e garantia de qualidade.
As cadeias produtivas dos agronegócios também vêm sendo demandadas por processos que permitam a governança e respeito às normas fitossanitárias e rastreabilidade. Frequentemente surgem notícias negativas de produtos agrícolas com presença de defensivos muitas vezes não autorizados para a cultura, particularmente hortifrutigranjeiros. Essas ocorrências geram desconfiança no consumidor para um segmento economicamente importante. No Brasil, mais recentemente, foi publicada a INSTRUÇÃO NORMATIVA CONJUNTA INC Nº 2, (MAPA e ANVISA) de 7 de fevereiro de 2018 tornando obrigatória a rastreabilidade dos produtos hortifrutigranjeiros. Não se tem, ainda, os detalhes operacionais da emissão de certificados de qualidade embora a medida tenha vindo para garantir a qualidade e sanidade dos produtos.
A citricultura para fins industriais vem, em larga escala, exercitando a rastreabilidade das frutas para processamento. Os controles dos defensivos já recebem uma avaliação prévia do registro para citros e o período permitido para que o produto possa ser colhido quando é liberada a entrada na quadra pulverizada (Lista PIC-Produção Integrada de Citros). O procedimento vem sendo ampliado e aprimorado, mas há muito a fazer e para incorporar toda a cadeia produtiva no sistema de rastreabilidade.
O desafio é muito grande com impacto diferenciado na vida dos citricultores. Torna-se evidente a necessidade de ter um sistema de controle das operações e a capacidade de emitir certificado de conformidade com as normas de cada cliente. Embora hoje existam sistemas de controle informatizado de cada etapa da produção a infraestrutura disponível ainda é carente. O acesso à internet pode dificultar o controle.
O Fundecitrus já inicia ações no sentido de passar aos produtores cuidados e processos que poderão ser incorporados no processo produtivo independentemente do tamanho da propriedade. Será necessário conhecer as plataformas e softwares disponíveis adaptáveis aos citricultores e as atuais exigências fitossanitárias da cultura, mas também à gestão de insumos e estoques. Trata-se de um caminho que valorizará ainda mais o agronegócio.